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O reformador protestante João Calvino (1509-1564) é mundialmente conhecido como inspirador, através do seu extraordinário legado literário de ensino das Escrituras Sagradas, escrito sob o seu pastorado na cidade de Genebra, do movimento teológico que leva seu nome: o Calvinismo. Sua hermenêutica priorizava a centralidade de Cristo como chave de compreensão leitora à totalidade das Sagradas Letras, a Bíblia. Ao escrever o prefácio à primeira tradução do Novo Testamento ao francês, elaborada pelo seu primo Pierre-Robert Olivétan, em 1535, Calvino elaborou uma verdadeira amostra dos atributos de exaltação a Cristo, como figura de sua presença e significação nas Sacradas Escrituras, a exemplo do escritor da Carta aos hebreus. Toda leitura das Escrituras é para contemplação de Cristo nela, é audiçao dos olhos do entendimento à iluminação da Palavra para enxergar o que não era visto, como a seguir o belíssimo trecho do prefácio, em convicta lucidez e correto entendimento sobre Cristo, no qual declara o reformador:
Esta, portanto, é a vida eterna: conhecer um só Deus verdadeiro e aquele que ele enviou, Jesus Cristo, a quem instituiu como o princípio, meio e fim de nossa salvação.
— Ele é Isaque, o Filho amado do Pai, que foi oferecido como sacrifício e que, no entanto, não sucumbiu ao poder da morte [Gn. 22].
— Ele é o bom e compassivo irmão José, que em sua glória não se envergonhou de reconhecer seus irmãos, por mais humildes e desprezíveis que fossem a condição deles [Gn. 45];
— Ele é o grande sacrificador e sumo sacerdote Melquisedeque, que ofereceu um sacrifício eterno, de uma vez por todas [Hb. 7.27];
— Ele é o legislador soberano Moisés, escrevendo sua lei, pelo seu Espírito, nas tábuas de nossos corações;
— Ele é o fiel capitão e guia Josué, para nos levar à Terra Prometida;
— Ele é o vitorioso e nobre rei Davi, conduzindo com sua mão à sujeição todo o poder rebelde;
— Ele é o magnífico e triunfante rei Salomão, governando seu reino em paz e prosperidade;
— Ele é o forte e poderoso Sansão, que por sua morte subjugou todos os seus inimigos [Jz. 16].
Um pouco adiante no texto prefacial, Calvino nos conduz a percepção da necessidade da leitura das Escrituras como testemunho da pessoa e obra de Cristo, pois “se alguém examinasse minuciosamente a Lei e os Profetas, não encontraria uma única palavra que não nos atraísse e nos conduzisse a ele.” E conclui, então, esclarecendo sobre a manutenção da padronização dessa postura leitora das Escrituras, da qual aconselha:
Disso, portanto, não é lícito que nos afastemos e nos desvie-mos, mesmo no menor grau, por isso ou aquilo. Pelo contrá-rio, nossas mentes devem parar no ponto em que aprende-mos na Escritura: conhecer Jesus Cristo e somente ele, para que possamos ser conduzidos diretamente por ele ao Pai, que contém em si mesmo toda perfeição.
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♥ Autoria J. A. Lucas Guimarães é organizador do Calvino21, historiador, pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP) e escritor, com várias obras publicadas sobre o reformador francês, dentre elas o livro Calvino, Ciência e fake news. ┐♥┌
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