Pular para o conteúdo principal

Destaques

CRUZ DE CRISTO: MÃO E PODER DE DEUS QUE SOCORREM

“ E da mesma maneira também os príncipes dos  sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus,  escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a si mesmo não  pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e  creremos nele. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama;  porque disse:  Sou Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram  também e m rosto os salteadores que com ele estavam  crucificados.”  — Mt. 27.41-44 Sejamos advertidos e andemos no temor de Deus para que depois de termos provado a sua Palavra possamos recebê-la com reverência e obedeçamos ao nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos é apresentado ali. Porquanto, é também nele verdadeiramente que encontraremos toda a perfeição das virtudes, se nos achegarmos a ele em humildade. Porque se presumirmos e brincarmos com Deus, nossa audácia deve receber tal recompensa, como lemos aqui desses homens miseráveis que foram tão conduzidos por sua fúria. No entanto, devemos tirar algum pr...

CARICATURA EM FOLHA DE LIVRO: JOÃO CALVINO OU BEZA?

J. A. Lucas Guimarães

Já publicamos postagem no Calvino21 apresentando a iconografia de João Calvino para dispor de uma amostra da evolução histórica do retrato de João Calvino. Subentendido a esse propósito, encontrava-se a busca de definir os traços característicos de sua fisionomia, de modo a servir como parâmetro à classificação dos muitos retratos pintados do reformador. Vários retratos de Calvino foram pintados sob encomenda para ilustração de suas obras no prelo e conhecidas com a publicação delas. Esses retratos, na maioria, tem seu foco de referência nas legendas ou brasão e não na reprodução da fisionomia do retratado. É de difícil compreensão o modo como no final da Baixa Idade Média as pessoas vinculavam uma pintura retratando uma pessoa de forma representativa e não fotográfica como atualmente. Somente com a Renascença Cultural (séc. XIV-XVI) ocorre a busca pela reprodução artística do objeto em substituição de sua representação. A reprodução fotográfica somente se tornaria realidade na primeira metade do século XIX, mas a reprodução artística do objeto real era característico desse movimento.

O estilo caricatural ainda era muito usado e aceito no século XVI e XVII. A identificação de traços característicos da fisionomia era o que assegurava que determinada pintura era da referida pessoa. O mesmo modelo poderia ser usado para retratar uma outra pessoa. Na época, não era raro encontrar semelhanças entre as pinturas retratadas, que sem atenção às distintas nuanças pode-se imaginar a mesma pessoa ou confundir a identificação de ambos. No entanto, alguns traços na fisionomia retratada comunicava aspectos da aparência que servia de identificação aos que o conhecia ou algo marcante de sua personalidade que o definia na sociedade. Um exemplo são os retratos de Calvino. Desde cedo, o estigmatizaram como uma pessoa iracunda, autoritária e vingativa. Portanto, o retrataram sob ausência de expressão cordial e como um juiz em constante alerta. Se colocado numa galeria entre outros retratos e perguntado quem dentre eles era Calvino, a indicação do retratado que tivesse semblante de carrasco não seria estranha como resposta.

|| Leia também: Iconografia de Calvino: história e representações.

Isso considerado, o que parecia impossível de ser obtido, uma fisionomia do jurista e reformador protestante do século XVI, a caricatura feita com tinta de pena nas páginas de guarda da obra do religioso e humanista Robert Gaguin, intitulada Le Compendium Roberti Gaguini super Francorum gestis (1511), parecia capaz de apresentar os traços da feição que garantisse um retrato que, se não fosse a aparência real, poderia conduzir a aproximada identificação dela. De início, esses esboços foram identificados como desenhados pelo francês Jacques Bourgoing, estudante da Academia de Genebra, em 1563-1564. Enquanto acompanhava as palestras proferidas em aula pelo professorBourgoing o tomava como modelo aos esboços retratados, usando como tela o recurso possível no momento: as folhas sem impressão das páginas de guarda do livro que tinha em mãos.

Páginas de guarda da obra de Roberti Gaguini com esboços de retratos de Calvino.

Os esboços desenhados sob exposição do próprio modelo real, provavelmente reproduziria os traços da fisionomia do retratado, de forma a ocorrer aparência com a real. Portanto, o que se percebia como recorrente em outras pinturas, parecia confirmado com as caricaturas nas páginas do livro: um Calvino em perfil caracterizado pela barba, feição do rosto com disposição distintiva do nariz e queixo, bem como uma vestimenta de estilo usual.

Recorte com esboço principal pintado em página de guarda do livro de Gaguin.

Tradicionalmente, foi aceito a versão da autoria do desenho dos esboços a Jacques Bourgoing, quando estudante na Academia de Genebra. Atualmente, não se tem como evidente que os esboços foram obra dele. Quanto ao retratado, quase dado por certo que era Calvino, é considerado como, provavelmente, tendo sido Theodoro de Beza, um dos professor da Academia de Genebra na época.

_________________

   Autoria   J. A. Lucas Guimarães é organizador do Calvino21, historiador, pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP) e escritor, com várias obras publicadas sobre o reformador francês, dentre elas o livro Calvino, Ciência e fake news.

Comentários

Postagens mais visitadas