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90 ANOS DE PUBLICAÇÃO NO BRASIL SOBRE CALVINO
É possível que na França Antártica, colônia francesa na região da Baía de Guanabara, no atual Estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 1555 a 1570, os indígenas tivessem leitura das obras do reformador francês João Calvino (1509-1564). Isso se considerada a reclamação em carta do padre jesuíta José de Anchieta (1534-1597) sobre a metodologia dos calvinista de encaminhar os jovens indígenas ao reformador para seu retorno como mestre à referida colônia. No entanto, deixado de lado, por enquanto, esse vestígio histórico e sob referência histórica da implantação do Protestantismo no Brasil em meados do século XIX, segue-se à primeira publicação literária sobre o reformador protestante ao leitor brasileiro, com lançamento no início da terceira década do século XX. Tem-se um marco no transcorrer de pouco menos de 80 anos de História do protestantismo no Brasil e de sua produção literária no país.
O pastor presbiteriano independente, historiador e escritor Vicente Themudo Lessa (1874-1939), através de publicações de artigos, já figurava como polemista em defesa do Protestantismo e seus expoentes, que eram impiedosamente aviltados, semanalmente, por articulistas católicos em matérias de circulação em conceituados jornais, na primeira década do século passado. A publicação de uma série de artigos de sua autoria, com circulação em edições de jornal em 1907, teve dois artigos dedicados a João Calvino, intitulados “O Protestantismo vindicado: Calvino – VIII e IX”, respectivamente. Eles são registros dos primeiros textos escritos exclusivamente sobre o reformador ao público leitor brasileiro. Pelo seu conteúdo, tem-se a apresentação do autor sob empreendimento de pesquisa sobre João Calvino, que se verifica pelo uso de referências de recentes publicações na Europa e América, dentre as obras clássicas sobre o assunto. Portanto, não se faz temerário, a quem o Rev. Alderi Souza de Matos, historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), em artigo à Revista Ultimato (30/1/2024), intitulou de “incansável pesquisador do protestantismo brasileiro”, o título a Vicente Lessa de primeiro especialista em Calvino no Brasil. Em reconhecimento ao seu legado, os artigos sobre o reformador passaram a integrar a coletânea de artigos, organizada por J. A. Lucas Guimarães, publicada como obra da Coleção Calvino21, intitulada “João Calvino: Quem dizem que sou? – Esboços de retratos calvinianos” (2023). Com o título “Calvino, o caluniado em vida e morto”, sob capitulação como texto único e atualizado à ortografia em vigor, pode-se considerar que o primeiro esboço de retrato brasileiro de João Calvino encontrava-se em exposição, antes de uma biografia sobre ele.
Já estreado no mercado editorial com publicações de outras obras, com o lançamento do livro intitulado “Calvino (1509-1564): sua vida e sua obra” em 1934, é de Vicente Lessa a posse autoral do primeiro livro publicado no Brasil sobre o reformador, conforme o próprio autor, no capítulo introdutório à obra intitulado "Ao leitor", constata que: “Muito tem sido escrito sobre o chamado “Papa de Genebra”, sendo não pequeno o número de biógrafos de feição benigna ou adversa. Em nossa língua, porém, nenhuma obra foi publicada a seu respeito.” Vicente Lessa deixa transparecer a preferência que na sua primeira publicação biográfica dos vultos do protestantismo histórico figurasse a pessoa de Calvino, ao tentar esclarecer sua motivação: “Outros perfis temos traçado e estudos temos feito sobre vultos e eventos da Reforma, que surgirão a seu tempo se a oportunidade o permitir. Por enquanto, deixemos desfilar o varão que tornou insigne o nome de Genebra.” Nesse nível, conclui sua própria apresentação da obra, que faria solo editorial por mais de três década até a segunda publicação sobre Calvino no Brasil.
Sobre o reconhecimento como obra clássica das edições anteriores, que na definição de outro Calvino, o escritor e jornalista italiano Ítalo Calvino (1923-1985), no livro “Por que ler os clássicos”, um clássico é um livro que dele se diz que está relendo e jamais que está lendo, a última edição da obra “Calvino (1509-1564): sua vida e sua obra” de Vicente Lessa insere-se como evento do século XXI, dada a publicação pela Editora Monergismo, em 2010. Com a apresentação do Rev. Odair Olivetti (1954-2015), pastor presbiteriano, tradutor e declarado leitor da obra, verifica-se no texto a seguinte sucinta resenha:
“A obra de Lessa sobre João Calvino é abrangente: dá informações sobre os antecedentes da Reforma (sobre o ambiente geral sócio-político-religioso, e sobre pré-reformadores ou precursores da Reforma); não poupa informações sobre as várias fases da preparação de Calvino, da infância em diante; registra uma relação das numerosas e variadas obras escritas pelo Reformador, fazendo uso de uma classificação feita pelo importante historiador Phillip Schaff; trata com proficiência do problema relacionado com Serveto; dá o devido tratamento a calúnias sofridas pelo Reformador, reduzindo as críticas à proporção correta; narra inspiradores e desafiadores fatos, dados, atos e atitudes de Calvino nos dias que antecederam sua morte; e registra edificantes testemunhos de Calvino e de outros que deixam para os pósteros um rastro de luz digno de ser seguido e um estimulante exemplo para os cristãos em geral e para os pastores em particular.”
♥ Leia também: Calvino no Brasil: publicações no século XX
No presente ano, sob ciência dos muitos merecidos méritos à produção de sua intelectualidade e comprometimento com a fé cristã de expressão protestante no Brasil, que abundantemente foram conferidos a Vicente Themudo Lessa em variados círculos acadêmicos e eclesiásticos, a comemoração aos 90 anos (1934-2024) da primeira publicação de literatura no Brasil sobre João Calvino, legado de sua autoria, é tributo em nome do protestantismo brasileiro devedor de sua iniciativa em prol da divulgação do conhecimento da vida e obra do reformador João Calvino e em defesa de integridade e honestidade no uso do saber histórico do protestantismo e seus vultos, ao entendimento do público brasileiro da verdadeira religião cristã, na qual “ninguém os pode acusar de imoralidade, perversidade ou impiedade”, assevera convictamente Vicente Lessa em artigo de jornal. E nem ao autor inaugural do referido marco histórico de incoerência, carência intelectual e indisposição à produção literária e ao serviço missionário.
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