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Destaques

CRUZ DE CRISTO: MÃO E PODER DE DEUS QUE SOCORREM

“ E da mesma maneira também os príncipes dos  sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus,  escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a si mesmo não  pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e  creremos nele. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama;  porque disse:  Sou Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram  também e m rosto os salteadores que com ele estavam  crucificados.”  — Mt. 27.41-44 Sejamos advertidos e andemos no temor de Deus para que depois de termos provado a sua Palavra possamos recebê-la com reverência e obedeçamos ao nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos é apresentado ali. Porquanto, é também nele verdadeiramente que encontraremos toda a perfeição das virtudes, se nos achegarmos a ele em humildade. Porque se presumirmos e brincarmos com Deus, nossa audácia deve receber tal recompensa, como lemos aqui desses homens miseráveis que foram tão conduzidos por sua fúria. No entanto, devemos tirar algum pr...

PREFÁCIO DE CALVINO ÀS INSTITUTAS NO PÓDIO LITERÁRIO

J. A. Lucas Guimarães

Em 1939, o austríaco Otto Maria Karpfen (1900-1978) emigrou para o Brasil, dito Carpeaux, sobrenome que passa a usar no Brasil, no princípio da década de 1940. Aqui escreveu a maior parte de sua obra literária, que se somaria aos seus cinco livros publicados na Europa. Em sua monumental obra em quatro volumes, sob título de História da Literatura Ocidental (1958-1966), propriamente no primeiro volume, cuja publicação da primeira edição em 1959 ocorreu pela Edições O Cruzeiro, traz à memória fato ocorrido à nível literário sobre João Calvino, ao qual se mostra desconcertante para ele, mas apropriado aos leitores dos escritos calvinianos, já informados da decisiva contribuição do reformador à língua e literatura francesas. Carpeaux (2008), ao escrever um artigo sobre os prefácios das obras literárias, pondera a respeito das memórias que se junta em torno da abordagem em questão:

Eis as lembranças facilmente evocáveis que a chamada ironia do bispo Copleston poderia inspirar a qualquer um dos seus leitores. Difícil é, porém, o que Oliver Wendell Holmes dizia em 1867 numa conferência na Universidade de Harvard: “Três grandes prefácios desafiam a admiração dos eruditos: o de Calvino para suas Institutiones Christianae, o de De Thou para sua História, e o de Casaubonus para sua edição de Políbio.” E fiquei boquiaberto, entregue a muitas horas de dor de cabeça.

Após elaborar questionamentos à posição dada aos outros dois autores e seus prefácios, Carpeaux (2008) mira sua precisão critica sobre Calvino, na representatividade de seu prefácio, em forma de esclarecimento:

Enfim, as Institutiones Christianae de Calvino, o livro fundamental do protestantismo calvinista, têm como prefácio uma dedicatória ao rei François I da França, monarca catolicíssimo e intolerante, carta respeitosa mas pungente. É o primeiro exemplo de prefácio-desafio, o primeiro mas não maior. Mais pungente é o prefácio de Molière para Tartuffe, em que compara sua comédia tão censurada pelos hipócritas com outra peça, muito mais irreligiosa, mas não censurada por ninguém...

Embora, revele possuir sua própria lista de prefácios dignos do pódio da excelência de prefaciar, ao tecer suas críticas ao motivo de sua entrega a muitas horas de dor de cabeça e não se faça concorde que o prefácio escrito por João Calvino às suas Institutas desafia a admiração dos eruditos, a erudição literária de Carpeaux é incapaz de não reconhecer o belo estilismo e nem o autoriza a descartar o notório literário quando existente. Em face do conhecimento obtido da pesquisa sobre a escrita de prefácio na história da literatura à elaboração do artigo, faz conhecido um fato ocorrido com a escrita do prefácio às Institutas por João Calvino. Se a imediata dor de cabeça do tinha causa na posição da obra calviniano figurar entre as três primeiras admiráveis da literatura, após as muitas horas do importuno a lúcida honestidade literária se mostra intacta para informar que o prefácio em menção também dignifica seu autor, João Calvino, com a inauguração do estilo literário denominado de “prefácio-desafio”. Quando a coerência norteia a intelectualidade, o que é de difícil aceitação não se torna em impossível reconhecimento.

O que Carpeaux considerou difícil, ao relembrar o que disse Oliver Wendell Holmes, mesmo reconhecendo que o prefácio calviniano era pungente, qualidade própria de algo capaz de conquistar admiração, todavia o remete à comparação ao prefácio de outro escritor e o pretere como menor. Por certo, o difícil da aceitação do prefácio de Calvino como desafiador a admiração dos eruditos, diz respeito a postura literata e não erudita do autor, o que não significa ausência de erudição nele.

Leia também: Síntese do pensamento de Calvino nas Institutas

Sabe-se que a ironia é estilo que acompanha a Literatura desde seus primórdios. No entanto, a publicação da obra editada por Charles W. Eliot, intitulada Prefaces and Prologues to Famous Books(1910), constando no topo o Prefácio de Calvino, já declarado por Oliver Wendell Holmes em 1867, não figura como ironia literária, mas tendência que se consolidou, sob crivo metodológico, como observa o editor em Nota Introdutória da obra citada:

Novamente, a pesquisa moderna, como faz há muito tempo, classificou a “History of the World” de Raleigh como desatualizada, mas seu eloquente Prefácio ainda nos dá uma rara imagem da atitude de um Elisabetano inteligente da geração que colonizou a América, em relação aos mundos  passado, presente e futuros. A “Great Restoration” de Bacon não é mais um guia ao método científico, mas suas declarações prefaciadoras quanto aos seus objetivos e esperanças, ainda oferecem uma elevada inspiração.
E assim com os documentos aqui extraídos, dos fólios de Copérnico e Calvino, com o criticismo de Dryden, Wordsworth e Hugo, com o Prefácio do Dr. Johnson ao seu grande “Dictionary e com o manifestação surpreendente de uma nova poesia com “Leaves of Grass” de Walt Whitman, cada um deles tendo um valor e significado independente agora do trabalho que originalmente introduziram, e cada um deles nos apresenta um homem.

O escritor Otto Maria Carpeaux, sem dúvida, detinha o reconhecimento de crítico literário e, portanto, em condições de sugerir sua própria lista de classificação dos mais significativos prefácios escritos à soma das obras literárias. E, apesar do reconhecimento do singular valor literário do Prefácio escrito por João Calvino à sua obra magna, Institutas da Religião Cristã (1559), natural candidato ao topo de sua lista, ele o deixar a margear essa possibilidade. Pode-se considerar que era característico de Carpeaux não se condicionar às tendências literárias. Contudo, a produção calviniana alcançou a consolidação de sua posição na História da Literatura, tendo um valor e significado independente agora”, usando a expressão de Eliot, da crítica literária.  

Referência bibliográfica

CARPEAUX, Otto Maria. História da literatura ocidental – vol. I. 3. ed. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008.
ELIOT, Charles W. Eliot (ed.). Prefaces and Prologues to Famous Books. New York: P. F. Collier & Son, 1910. (The Harvard Classics, 39).

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   Autoria   J. A. Lucas Guimarães é organizador do Calvino21, historiador, pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP) e escritor, com várias obras publicadas sobre o reformador francês, dentre elas o livro Calvino, Ciência e fake news.

CALVIN'S PREFACE TO THE INSTITUTES ON THE LITERARY PODIUM

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