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✢ CALVINO ERA NOME DE CAVALO VENCEDOR
J. A. Lucas Guimarães | Calvino21
Algo inusitado foi noticiado envolvendo o nome de João Calvino (1509-1564), advogado, pastor, reformador protestante do séc. XIX e reconhecido não apenas pela excelência de seu pastorado na cidade de Genebra (Suíça), mas marcadamente como inspirador do sistema teológico denominado de Calvinismo. O Jornal do Brasil, com circulação no Rio de Janeiro, edição da manhã de 07/02/1901, na coluna Sport, sob título "Turf platino", publica resultados das corridas realizadas em Buenos Aires, no final do mês anterior. Nas categorias, constam as duplas vencedoras: Star e Steel King, Monja e Bandolero, Can-Can e Yerba Dulce, entre outras. No entanto, um detalhe não poderia passar desapercebido. Ele diz respeito ao fato do cavalo vencedor do páreo Remate figurar no noticiado com o nome de "Calvino". Mas o que torna esse fato significativo ao estudo da vida e obra de João Calvino?
Ocorre que no início do século XX, o nome "Calvino" não era popularmente conhecido, de forma a vincular uma virtude própria dele para agregar valor simbólico ao animal. Quando o proprietário de um dos vencedores chamou seu cavalo de "Star", certamente, queria vincular sua imagem a fama, semelhante a uma "estrela", e como tal atuaria nas competições. Todavia, também, um animal era chamado por um nome que o proprietário queria caricaturar. Nesse caso, não procurava agregar valor ao animal, mas rebaixar e aviltar a imagem de um vulto histórico, ao chamar o animal pelo nome daquele. Quanto a chamar um animal pelo nome de uma pessoa para homenageá-la, não era comum e nem aceitável socialmente.
Nesse período, o próprio Jornal do Brasil divulgava matéria de teor autoral contrário ao protestantismo. O nome João Calvino ou Calvino era identificado como herege e líder protestante que queimou na fogueira o médico Miguel Serveto. O Turf era marcadamente um esporte praticado pela classe alta da sociedade da época. Os leitores do jornal são, em sua maioria, dessa classe social. Desta forma, o proprietário, por certo, teve a intenção, já que o nome Calvino não é popularmente conhecido e nem carrega nenhum apelo especial, de estigmatizar aquele que é mundialmente vinculado como seu sobrenome: João Calvino, um dos principais líderes do movimento protestante do século XVI.
Em vida e, principalmente, após sua morte, pode-se considerar que João Calvino, como um dos grandes da história da humanidade, foi o mais caricaturado e que teve sua imagem perversamente retratada com os piores delitos e vícios que se pode praticar. Dado como herege pela Igreja Católica Romana, parece que era a permissão para atentar o que fosse possível contra ele. Se era sobre João Calvino, a mentira mais absurda devia ser a verdade mais pura, então não precisava de prova para acreditar. É a favor dele, mesmo com prova, qualquer verdade sobre alguma virtude era passiva de dúvida e dada ao descrédito.
Duas coisas a falácia não pode mudar: a realidade e a verdade histórica. Essas duas começam a mostrar insistentemente ao século XXI que João Calvino foi bem e bondade à humanidade e que o seu legado foi inspirador das grandes estruturas que formam a sociedade moderna: democracia, filantropia, educação... Parece que o nome "Calvino" inspirou o cavalo com as virtudes próprias daquele que é vulto histórico reconhecido por esse sobrenome, tais como persistência, força e vitória.
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