Pular para o conteúdo principal

Destaques

CRUZ DE CRISTO: MÃO E PODER DE DEUS QUE SOCORREM

“ E da mesma maneira também os príncipes dos  sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus,  escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a si mesmo não  pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e  creremos nele. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama;  porque disse:  Sou Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram  também e m rosto os salteadores que com ele estavam  crucificados.”  — Mt. 27.41-44 Sejamos advertidos e andemos no temor de Deus para que depois de termos provado a sua Palavra possamos recebê-la com reverência e obedeçamos ao nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos é apresentado ali. Porquanto, é também nele verdadeiramente que encontraremos toda a perfeição das virtudes, se nos achegarmos a ele em humildade. Porque se presumirmos e brincarmos com Deus, nossa audácia deve receber tal recompensa, como lemos aqui desses homens miseráveis que foram tão conduzidos por sua fúria. No entanto, devemos tirar algum pr...

CRISTIANISMO DE APARÊNCIA NÃO BASTA

João Calvino *

Vamos perguntar aos que nada mais possuem além da membresia de uma igreja e que mesmo assim esperam ser chamados de cristãos, como conseguem glorificar o nome sagrado de Cristo?

Apenas quem tem recebido o verdadeiro conhecimento de Deus, através da Palavra do Evangelho, pode alcançar a comunhão com Cristo. O apóstolo afirmou que sem ter desprezado a velha natureza, com sua corrupção e seus desejos, ninguém jamais pode declarar que recebeu o verdadeiro conhecimento de Cristo. O conhecimento de Cristo somente exterior é uma perigosa crença, mesmo que as pessoas que as têm sejam de grande eloquência.

O evangelho não é uma doutrina da fala, mas de vida. Ele não pode ser assimilado único e exclusivamente por meio da razão e da memória. Porque somente se alcança a compreensão totalmente dele, quando ele domina toda a alma e adentra ao mais profundo do coração. Os cristãos nominais devem parar de ofender a Deus ao se gabar de serem algo que não são.

É indispensável, em primeiro lugar, nos ater no conhecimento de nossa fé. Porque ela é o princípio de nossa salvação. Por certo, se nossa fé ou religião não nos conduzir a uma transformação de nosso coração e de nossas atitudes, tornando-nos em novas criaturas, não nos beneficiará em nada.

Os filósofos corretamente condenam e excluem de sua companhia qualquer um que declara conhecer a arte de viver a vida, mas que, na realidade, é apenas uma criança gaguejante. Com muito mais motivos, os cristãos deveriam se revoltar contra aqueles que estão com o Evangelho em seus lábios, mas ausente de seus corações. Se comparadas com as convicções, os afetos e a força sem limites dos verdadeiros crentes, as recomendações dos filósofos são impessoais e sem vida [Ef. 4.20].

Não é devido continuar a requerer uma total perfeição em nossos companheiros cristãos, ainda que seja intensa a luta para nós mesmos obtê-la. Não seria sem injustiça o pedido de uma perfeição evangélica, sem a constatação de que a pessoa é uma cristã verdadeiramente. Caso determinássemos um estatuto, requerendo aos cristãos perfeição plena, não seria possível a existência de nenhuma igreja. Porque nos encontramos, sem exceção, à longa distância de verdadeiramente nos tornar cristãos ideais. Assim como, também, seria preciso desqualificar muitos, que apenas conseguem progredir lentamente.

Devemos ter a perfeição como alvo final, para onde nos encaminhamos, e o supremo propósito de nossas vidas. Não é correto que realizemos um acordo com Deus, em que cuidamos de cumprir parte de nossas obrigações e deixar de lado outras, conforme nosso gosto e capricho. Antes de qualquer coisa, o Senhor requer sinceridade em seu serviço e simplicidade de coração, sem engano e nem falsidade. Porque uma mente dividida encontra-se em crise com a vida espiritual, pois ela implica uma sincera devoção a Deus em busca de santidade e retidão.

Nesta terrena prisão do corpo, nenhuma pessoa possui força em si suficiente para avançar adiante com permanente vigilância e cuidado. Por vez, a maior parte dos cristãos sofre de tão enorme incapacidade, a ponto de se afastarem de seu progresso espiritual ou se impedirem dele, o que redunda em avanços muito vagarosos e raros.

Temos que permitir que cada um se encaminhe conforme habilidade recebida e mantenha, portanto, a peregrinação que tem empreendido. Não existe pessoa tão infeliz e incapaz que pouco a pouco não tenha obtido um pequeno progresso. Não deixemos de realizar o que for possível para prosseguir ininterruptamente mais adiante no caminho do Senhor. E não nos desesperemos em vista de nossas raras conquistas. Mesmo ainda não alcançado o nível espiritual que esperamos ou almejamos, nosso trabalho não foi em vão, se o dia de hoje superou em qualidade espiritual o dia de ontem.

A única condição ao verdadeiro progresso espiritual é que nos mantenhamos sinceros e humildes. Permaneçamos com nossa meta final em mente e com ela prossigamos com toda a nossa vontade. Não sucumbamos ao orgulho e nem nos lancemos às paixões pecaminosas. Exercitemos com total dedicação para atingirmos uma norma mais elevada de santidade. Isso até que alcancemos o melhor de nossa qualidade espiritual, devendo persistir nela no percurso de nossa vida. Apenas alcançaremos a perfeição plena, quando formos acolhidos por Deus em sua presença, ao sermos libertos deste corpo corruptível.

_________________ 

* CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã (Livro III, Cap. VI.4).

Comentários

Postagens mais visitadas