Rev. J. A. Lucas Guimarães *
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Três práticas clássicas de expressão religiosa competem a nível de mérito, qualificação e mutua associação na busca do fiel em vivenciar a síntese cristã e obter o reconhecimento de sua estatura e autoridade espiritual. Ou expressando mais claramente: aquisição de seu meritório respeito pela observação à oração, ao jejum e à esmola. Não é por acaso que em seu ensino no Sermão do Monte (Mt. 5-7), Jesus ocupou cerca de um terço do tempo no tratamento dessas virtudes (Mt. 6). No entanto, o que se verifica é a permanência da mesma dificuldade confrontada por Jesus Cristo. É o que se observa no século XVI, quando João Calvino, reformador protestante e pastor em Genebra, sente a mesma necessidade de desfazer as crendices e afirmar a verdade bíblica da prática da oração e do jejum e seu apropriado vinculo com a adoração a Deus.
Calvino, em seu comentário ao Evangelho de Lucas (2.34), em atenção ao ato de Simeão abençoar Maria e José, quando estavam no templo com Jesus para cumprir a lei dada ao nascimento do sexo masculino, tem por oportuno afirmar que: “É por demais apropriado que os as pessoas orem umas pelas outras.” Em sequência, dado ao relato da prática de Ana adorar a Deus através de jejuns e orações, Calvino aproveita para ponderar sobre o valor dessas práticas na adoração a Deus, ao especificar que:
“As orações pertencem estritamente a adoração a Deus. Jejum é um auxílio subordinado, que é agradável a Deus, não mais do que como ajuda à sinceridade e fervor da oração. Devemos apegar-nos a esta regra: que os direitos das pessoas devem ser julgados de acordo como eles são direcionados para um fim próprio e legal. Temos de manter, também, a seguinte distinção: que as orações são um tipo de adoração direta a Deus, e os jejuns, enquanto são uma parte do culto, somente por conta de suas consequências.”
Em comentário ao Evangelho de Mateus (6.7), Calvino expõe sua contundente instrução de confronto ao indevido uso da oração e afirmação da oração do coração devoto, como segue:
“Cristo reprova a insensatez daqueles que, com o fim de persuadir a Deus com rogos, jorram um excesso de palavras. Essa doutrina não é compatível com os elogios em toda parte concedida, na Escritura, à seriedade na oração: para, quando, a oração é oferecida com sentimento sincero, a língua não vai antes do coração. Além disso, a graça de Deus não é obtida por um fluxo de palavras sem sentido. Mas, pelo contrário, um coração devoto joga fora suas afeições, como setas, para furar o céu. Ao mesmo tempo, isso condena a superstição daqueles que acolhem a crença de que eles vão conseguir o favor de Deus através de longas murmurações.”
Isso encaminha Calvino a expor o erro, no qual muitos se encontravam em estado de profunda crença na eficácia da importunação a Deus para se obter o que queria dele. Desse modo, Calvino constata sobre quem se entregou a tal engano:
“...que acredita que a eficácia da oração encontra-se na dissimulação e, principalmente, na tagarelice. O maior número de palavras que um homem resmunga, mais diligentemente ele deve ter orado. Também cantar demorado e tedioso, como se fosse para acalmar os ouvidos de Deus... Porque de onde vem essa loucura de pensar que se obtém, por fim, a grande vantagem, quando os homens cansam Deus através de uma variedade de palavras, apenas porque imaginam que ele é como um homem mortal, que necessita ser informado e solicitado? Quem está convencido de que Deus não somente cuida de nós, mas conhece todos os nossos desejos e antecipa os nossos desejos e ansiedades antes de os disser, vai deixar de vãs repetições e contará o suficiente para prolongar a sua oração, na medida em que for necessário ao exercício de sua fé. Porém, considero um absurdo e ridículo aproximar-se de Deus com enfeites de retórica, na expectativa de que ele será movido por uma abundância de palavras.
Mas se Deus sabe das coisas que temos necessidade de, antes de lhe pedir, onde está a vantagem da oração? Se ele estiver pronto, de sua livre vontade, para nos ajudar, a que finalidade serve para empregar as nossas orações, que interrompem o curso espontâneo da sua providência?
O projeto da oração fornece uma resposta fácil. Os crentes não oram com objetivo de informar a Deus sobre o que lhe é desconhecido, lembra-lhe a realizar o seu dever ou de o impelir, como se ele relutasse a isso. Pelo contrário, eles oram a Deus para que possam conduzir-se a procurá-lo, para que possam exercitar a sua fé em meditar sobre as suas promessas e para poderem aliviar-se das suas angústias, depositando-as em seu seio. Em uma palavra: que possam declarar que somente a Ele pelo que esperam e esperam, para si e para os outros, todas as coisas boas. O próprio Deus, por outro lado, propôs livremente, e sem ser perguntado, para outorgar bênçãos sobre nós, mas ele promete que irá concedê-las a nossas orações. Devemos, portanto, manter essas duas verdades, que Ele antecipa livremente os nossos desejos, e ainda que obtemos através da oração que nós pedimos. Quanto à razão pela qual às vezes demora muito tempo para nos responder, e às vezes até não conceder os nossos desejos, uma oportunidade de considerá-lo mais tarde vai ocorrer.
Sempre que nós nos engajamos em oração, há duas coisas a serem consideradas, ambas para podemos ter acesso a Deus, e para podemos confiar nele com plena e inabalável confiança: o seu amor paternal em relação a nós, e seu poder ilimitado. Vamos, portanto, entreter sem dúvida, que Deus está disposto a nos receber gentilmente, que ele está pronto a ouvir nossas orações, numa palavra, de que ele próprio está disposto a nos ajudar.”
Calvino considera que “a oração pelo perdão dos pecados é colocada em primeiro lugar.” Nisso, aproveita a oportunidade para aprofundar seu ensino sobre a temática da oração e fazer um ajuste em relação ao que se pensava sobre o propósito do jejum e sua prática, quando considerado à adoração a Deus. Ele se faz entender, como segue:
“Quando ele promete uma recompensa de Deus para jejuns, este modo de expressão, como se disse um pouco antes no que diz respeito à oração, não é exato. Há uma grande diferença, na verdade, entre a oração e o jejum. Oração detém o primeiro lugar entre as palhaçadas de piedade, mas o jejum é uma operação de liquidação duvidosa, e não como esmola, pertencem à classe das ações que Deus exige e aprova. É agradável a Deus, apenas na medida em que é dirigido a um outro objeto: o que é, para nos treinar a abstinência, para subjugar a concupiscência da carne, para estimular-nos a seriedade na oração e no testemunho de nosso arrependimento, quando somos afetados pela visão do tribunal de Deus. O significado das palavras de Cristo: “Deus vai mostrar um dia que ele estava satisfeito com as boas obras, que parecia estar perdido, porque eles estavam escondidos dos olhos dos homens.”
Calvino falando sobre a orientação de Cristo persistir na oração, no Evangelho de Mateus [7.7], diz:
“É uma exortação à oração: e como no exercício da religião, que deveria ser nossa primeira preocupação, estamos tão negligente e lento, Cristo usa a mesma ênfase a nós sob três formas de expressão. Não existe excesso de linguagem, quando ele diz, pedir, buscar, bater, mas para que a simples doutrina não deva ser inexpressiva, ele persevera, a fim de nos levantar de nossa inatividade. Esse é também o intento das promessas que são adicionadas, achareis, deve ser dado a você, e será aberto. Nada é mais apropriado para excitar-nos à oração do que a plena convicção de que seremos ouvidos. Aqueles que duvidam só podem orar de uma forma indiferente, e oração, desacompanhada da fé, é uma cerimônia inútil e sem sentido. Assim, Cristo, a fim de estimular-nos fortemente a esta parte do nosso dever, não só ordena o que devemos fazer, mas promete que nossas orações não serão infrutíferas.
Isso deve ser cuidadosamente observado. Em primeiro lugar, podemos aprender com isso, que esta regra da oração é previsto e prescrito para nós, para que possa ser plenamente convencido de que Deus se compadeça de nós e vai ouvir os nossos pedidos. Mais uma vez, quando nos engajamos em oração, ou quando sentimos que o nosso ardor na oração não é suficientemente forte, devemos lembrar o gentil convite, pelo qual Cristo assegura-nos da bondade paternal de Deus. Cada um de nós, confiando na graça de Cristo, assim, atingir a confiança na oração, e vai se aventurar livremente para clamar a Deus ‘através de Jesus Cristo, nosso Senhor, em quem (como diz Paulo) temos ousadia e acesso com confiança, pela fé dele.’ [Ef. 3.11-12]
Cristo apresenta a graça de seu Pai para aqueles que oram. Ele nos diz que Deus é de si mesmo disposto a ouvir-nos, desde que oremos a ele, e que suas riquezas estão ao nosso comando, desde que lhes peçamos. Essas palavras implicam que aqueles que são destituídos do que é necessário, e ainda não recorrem a este remédio para sua pobreza, são justamente punido por sua indolência. É certo, aliás, que muitas vezes, quando os crentes estão dormindo, Deus vigia sobre a sua salvação, e antecipa seus desejos. Nada poderia ser mais infeliz para nós do que, em meio a nossa grande indiferença, ou melhor dizendo, nossa grande estupidez, nosso grande Deus fosse esperar por nossas orações, ou que, em meio a nossa grande leviandade, ele foi não tomar conhecimento da nós. Mais ainda, é apenas de si mesmo que ele é induzido a conceder-nos a fé, que vai antes de todas as orações em ordem e no tempo. Mas, como discípulos de Cristo aqui os endereços, ele apenas nos lembra de que maneira nosso Pai celestial tem o prazer de derramar sobre nós os seus dons. Apesar de todas as coisas que ele dá liberdade para nós, ainda, a fim de exercer nossa fé, ele nos manda orar, para que ele pode conceder aos nossos pedidos as bênçãos que fluem de sua bondade imerecida.
Isso é expressamente mencionado por Cristo, que os crentes não podem dar lugar aos desejos insensatos e imprópria em oração. Sabemos como grande influência, a este respeito, é exercida pelos excessos e presunção de nossa carne. Não há nada que nós não nos permitimos fazer parte de Deus, e se ele não o nosso humor, loucura, nós gritamos contra ele. Cristo nos exorta, por conseguinte, a apresentar os nossos desejos à vontade de Deus, que ele pode nos dar nada mais do que ele sabe ser vantajosa. Não devemos pensar que ele não toma conhecimento de nós, quando ele não responde a nossos desejos, porque ele tem o direito de distinguir o que realmente precisamos. Todos os nossos afetos ser cego, a regra de oração deve ser buscada a partir da palavra de Deus, pois não somos juízes competentes de uma questão tão importante. Aquele que deseja se aproximar de Deus com a convicção de que ele será ouvido, tem que aprender a moderar o seu coração de perguntar qualquer coisa que não é agradável à sua vontade.
É dever dos filhos de Deus, quando se envolver em oração, despirem-se de afetos terrenos, e subir para a meditação sobre a vida espiritual. Desta forma, eles vão definir o valor pouco sobre alimentação e vestuário, em comparação com o penhor e garantia da sua adopção [Rm. 8.15, Ef. 1.14] e quando Deus tem dado um tesouro tão valioso, ele não vai recusar favores menores.
A instrução geral transmitida por ela é este: os crentes não deve ser desencorajado, se não obter imediatamente os seus desejos, ou se achar difícil de ser obtido: por que, entre os homens, importunação extorque de perguntar o que uma pessoa não grado fazer, não temos razão para duvidar de que Deus vai nos ouvir, se perseverar constantemente em oração, e se nossas mentes não esmorecer com a dificuldade ou atraso.”
Conforme Calvino, “a certeza da fé, que Deus exige em nossas orações: para os homens não devem esperar mais do que Deus promete.” Falando sobre a experiência do centurião com Cristo, ele diz:
“Por isso, é evidente quão graciosamente Cristo derrama sua graça, quando ele encontra o vaso da fé em aberto. [...] Assim também somos ensinados que a razão porque Deus é, em sua maior parte, de forma limitada nas suas comunicações para nós é porque a nossa incredulidade não permite que ele seja liberal. Se abrirmos a entrada a ele pela fé, ele vai ouvir os nossos desejos e orações.
Embora não tenhamos tanta abundância de fé, como seria desejável, não há razão para que a nossa fraqueza deve afastar ou dissuadir-nos da oração.
Se orarmos com fé, nunca iremos experimentar a recusa em nossas orações.”
Que extraordinário legado de espiritualidade, o Protestantismo reformado tem como berço. Não tem outra religião no mundo com lucidez de mente e coração a nos assistir em devida formação adoradora.
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Referência bibliográfica
CALVIN, John. Commentary on Matthew, Mark, Luke – I. Disponível em: http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom31.html. Acesso em: 22/03/2023.
Tradução: Calvino21.
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| * | O historiador e pastor presbiteriano J. A. Lucas Guimarães é organizador do Blog Calvino21, mestre em Ciências da Religião, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande (IHGPG), com João Calvino por patrono, e escritor, dentre suas obras, do livro Calvino, Ciência e fake news, dentre outros.
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