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LANÇAMENTO: LIVRO "JOÃO CALVINO: QUEM DIZEM QUE SOU?"

J. A. Lucas Guimarães ┐ ♥ ┌ Sob empréstimo da pergunta de Jesus aos discípulos foi publicada a décima obra da Coleção Calvino21,  intitulada: JOÃO CALVINO: “QUEM DIZEM QUE SOU?”   Esboços de retratos calvinianos O rganizada pelo historiador e teólogo J. A. Lucas Guimarães, encontra-se a convicção de que a relação de seu contexto original com as identificações à pessoa de João Calvino desde sua morte, não é mera coincidência. Se lhe fosse oportuno um lance de existência atual, é possível que ele fizesse semelhante indagação, apesar de seu desinteresse por ela em sua existência. Desse modo, tem início o empenho de disponibilizar a verdade histórica da identidade e identificação de João Calvino: advogado, um dos principais líder da Reforma Protestante do século XVI, pastor na cidade de Genebra e escritor cristão, com vasta literatura legada à posteridade, com a íntegra apresentação do Evangelho de Cristo pela fiel exposição bíblica. Porque já se distanciam os limites dos 500 ano...

CALVINO: SIMPLICIDADE E POBREZA

J. A. Lucas Guimarães *

┐♥┌

Há uma década, quando a Revista Forbes, no artigo The richest pastors in Brazil [Os pastores mais ricos do Brasil], não apenas listou os cinco mais ricos pastores do Brasil, como também mostrou como se encontra os empreendimentos voltados ao público protestante evangélico brasileiro. Uma das qualidades mais atraentes dos evangélicos é a crença de que o progresso material resulta do favor de Deus”, comenta o articulista. E conclui: Essa doutrina, conhecida como ‘Teologia da Prosperidade’, está na base das igrejas evangélicas de maior sucesso no Brasil. A Forbes revela o que já era sintomático, que a Teologia da Prosperidade alterou a percepção do protestantismo evangélico quando ao serviço religioso. Desse modo, a lógica do capitalismo fundamenta o serviço religioso como empreendimento (ministério). Nesse caso, o sucesso financeiro é a demonstração de que tanto o idealizador (líder religioso) quanto o empreendimento (ministério, como acontecimento sob uma visão e missão) não apenas tem o respaldo de Deus, mas que o realizado pelo líder é desejo divino para abençoar as pessoas. O sorriso de expressão de sucesso que expressam é o modo de mostrar que esse nível de satisfação consigo e de realização que alcançaram é o estado de favorecimento por Deus por estar realizando o que ele se agrada e faz multiplicar.

Essa situação tem impactado profundamente o ministério pastoral cristão no Brasil. De um lado, a tentativa de denegrir o serviço pastoral como mecanismo de enriquecimento fácil, que se expressava como forma de aposição apenas, ganha forma de denúncia e de estranhamento na sociedade. Do outro lado, o desempenho pastoral alcança o nível do comprometimento da estima, caso a rotina de fracasso a variável constante.

De olho nesse contexto, é que nos faz bem colocar diante de nós um homem que recusou estabelecer conexão intima entre pastoreio e sucesso financeiro, de forma a tornar sua pobreza em testemunho da autoridade de sua liderança: João Calvino. O historiador norte-americano Will Durant, no sexto livro intitulado Reforma, de sua clássica Coleção História da Civilização, com coautoria da esposa Ariel Durant, relata que o Papa Pio IV (1499-1565), em exaltação à postura de João Calvino em relação à riqueza, declarou: A força desse herege estava no fato de o dinheiro jamais tê-lo fascinado. Se eu tivesse servos como esse, meus domínios estender-se-iam de um oceano a outro. O próprio Durant sintetiza o aspecto de pobreza que envolvia a vida de Calvino, quando diz que ele:

Vivia com simplicidade, comia frugalmente, jejuava sem ostentação, dormia apenas seis horas por dia, nunca tirava férias, e não se poupava em tudo aquilo que julgasse ser do serviço de Deus. Recusou aumento de salário, mas esforçou-se por levantar fundos para auxiliar os pobres.

O historiador alemão Paul Emill Henry (1792-1853), no seu livro The life and times of John Calvin, the great reformer, considera que para entender como João Calvino era e para possibilitar uma ideia real de sua vida doméstica, “devemos observar que seu modo de vida não era apenas simples, mas caracterizado pela pobreza. Existem muitos testemunhos nesse sentido. A pobreza era para ele um princípio, e quando recebia era só para dar.

Também foi relatado e relatado por pessoas bem conhecidas na igreja românica, que o cardeal Sadolet, quando uma vez viajou incógnito por Genebra, desejava ver o reformador Calvino, que havia escrito contra ele. Assim, ele mesmo saiu, com a intenção de bater à porta, e esperando encontrá-lo, como os católicos, em um palácio ou pelo menos em uma casa bem mobiliada, e cercado de criados. Mas ele ficou muito surpreso, quando, em resposta às suas indagações, alguém lhe apontou um pequeno cortiço, e quando, ao bater, o próprio Calvino veio, muito simplesmente vestido, abrir a porta. Surpreendeu-se, de fato, ao descobrir que aquele era o grande e célebre homem cujos escritos tanto admirava, nem poderia se abster de lhe expressar seu espanto.

Por certo, muitos ficarão surpreso com a informação sobre a situação econômica de João Calvino, que o citado historiador alemão Paul Emill Henry, no seu livro The Life and Times of John Calvin, the Great Reformer,[1] fornece aos seus leitores:

"[Calvino] recebia em Genebra só o suficiente para lhe dar suporte com a maior economia. Seu pagamento consistia de 50 dólares, doze medidas de cereais, dois barris de vinho e uma moradia. O protocolo de estado de outubro de 1541 diz, de fato, “que um considerável salário foi conferido a Calvino, porque ele era bastante letrado, e visitantes o davam muito custo”. Mas o que prova que este salário era muito pequeno, de acordo com o preço das coisas na época, é a circunstância que o conselho frequentemente achava necessário, por mera benevolência, de lhe estender uma mão ajudadora. Verdadeiro, contudo, aos seus princípios, ele recusou dez dólares oferecidos a ele quando esteve doente em 1546, e duas vezes onde o conselho quis que ele aceitasse para sua viagem à Berna, em 1553, para assuntos da república. Em 28 de dezembro de 1556, o conselho lhe enviou um pouco de madeira para aquecer seu quarto. Ele levou o dinheiro para eles por ela, mas eles não o aceitariam.
O mesmo corpo lhe enviara, em 14 de maio de 1560, um barril do melhor vinho, porque ele tinha só o que era muito indiferente. Ele contudo pegou emprestado apenas vinte e cinco dólares[2] para arcar com as despesas de sua doença e em 22 de junho de 1563, seriamente implorou ao conselho que os recebesse de volta. Ele de fato protestou, “que ele nunca mais subiria ao púlpito, se ele fosse compelido a reter outra indenização. Vinte dólares, ou seja, quase metade de seu salário, ele formalmente rejeitou – uma prova clara de seu desejo de se manter pobre."

Henry ainda destaca o seguinte trecho:

"Em uma carta a Farel (21 de janeiro de 1546), ele expressamente relata como uma vez ele foi obrigado a argumentar com um anabatista perante o conselho. Esta pessoa o tratou mal, até que encantoado e estando cheio de malícia, ele respondeu Calvino que todo clérigo levava uma vida de luxo. O reformador respondeu e o anabatista então o chamou de avarento, o que causou várias risadas, “Pois se recordou do que eu desisti neste mesmo ano, e que eu jurei que eu não pregaria novamente se eu fosse pressionado mais sobre este assunto. Também se sabia que eu recusei presentes adicionais e que eu abri mão de vinte dólares de meu salário. Todos o atacaram quando ouviram isto.”

A abertura do testamento de João Calvino, dada a sua morte, testemunha que seus bens equivalia, apenas, ao que um refugiado em Genebra teria condições de posse. Seus difamadores esperavam a revelação da grande avareza e riqueza de Calvino. Todavia, amargaram com o sabor da verdade sobre aquele que quase toda a sua vida de trabalho árduo pela salvação e bem-estar de Genebra foi na condição de refugiado, e como tal viveu, com o suficiente à sobrevivência, mas longe da riqueza material.

Por fim, é de se concluir que João Calvino fez pleno uso de duas forças operosas de virtudes: simplicidade, ao vencer à vanglória, e pobreza, em domínio da ganância. De posse delas, a pessoa torna-se rica em autoridade e sabedoria, como também abundante em bondade e caridade.

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Referências bibliográficas

[1] HENRY, Paul Emill. The Life and Times of John Calvin, the Great Reformer - Volume 1. New York: Robert Carter & Brothers.
[2] Os valores em dólares foram dados segundo a equivalência da época da publicação do livro, atualizado a realidade econômica do leitor.

 *  Autoria    J. A. Lucas Guimarães é organizador do Blog Calvino21, historiador, pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM/SP), com João Calvino por patrono é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande/SP (IHGPG) e escritor, com várias obras publicadas sobre o reformador francês, dentre as quais o livro Calvino, Ciência e fake news.

⥽ Title: CALVIN: SIMPLICITY AND POVERTY ⥼

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