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Destaques

CRUZ DE CRISTO: MÃO E PODER DE DEUS QUE SOCORREM

“ E da mesma maneira também os príncipes dos  sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus,  escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a si mesmo não  pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e  creremos nele. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama;  porque disse:  Sou Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram  também e m rosto os salteadores que com ele estavam  crucificados.”  — Mt. 27.41-44 Sejamos advertidos e andemos no temor de Deus para que depois de termos provado a sua Palavra possamos recebê-la com reverência e obedeçamos ao nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos é apresentado ali. Porquanto, é também nele verdadeiramente que encontraremos toda a perfeição das virtudes, se nos achegarmos a ele em humildade. Porque se presumirmos e brincarmos com Deus, nossa audácia deve receber tal recompensa, como lemos aqui desses homens miseráveis que foram tão conduzidos por sua fúria. No entanto, devemos tirar algum pr...

✢ JOÃO CALVINO E OS HÁBITOS DE SANTIDADE - III

 Mark Schaw *

HÁBITO Nº 2: PRATIQUE A NEGAÇÃO DO EU

De Mateus 16.24, Calvino retirou três elementos centrais da vida cristã: “A si mesmo se negue, tome a cruz e siga-me.” O que ele entendia por essa negação do eu? Para Calvino, a autonegação não era apenas o flagelo do corpo ou deixar de ingerir doces durante  a Quaresma. A verdadeira negação do eu vai muito além desses procedimentos superficiais. A base da negação do eu é uma questão de posse. Quem realmente está no controle de minha vida: Deus ou eu? Para Calvino, a resposta egoísta era inaceitável. O verdadeiro dono de cada pessoa é o Deus que criou, sustenta e redime.

A espiritualidade calvinista é construída com base em Romanos 12.1-2 e a negação dupla que essa passagem ensina:

(1) não pertencemos a nós mesmos e (2) pertencemos a Deus. Não existe um pecado em particular que deva ser mortificado primeiro, mas a raiz do pecado, que é a nossa autonomia em relação a Deus.

O que Calvino quis dizer quando afirmou que não pertencemos a nós mesmos?

Nós não somos nossos; portanto, nossa razão não controlará nossos planos e ações. Não somos nossos; não nos proponhamos a este fim de acordo com o que convém à carne. Não somos nossos; portanto, até onde seja exequível, esqueçamos a nós mesmos e a tudo que é nosso (3.7.1).
Se não somos pessoas autônomas, então quem somos? A resposta de Calvino é que somos criaturas pertencentes a Deus. A essência do calvinismo não é aprisionada pelas doutrinas da eleição ou da predestinação, mas se encontra na declaração de Calvino a respeito da posse de Deus sobre as nossas vidas:
Pelo contrário, somos de Deus, logo, para ele vivamos e morramos; somos de Deus, logo, a todas as ações nossas presidam a sabedoria e a vontade; somos de Deus, logo, para com ele, como ao só legítimo fim, se polarizem as expressões todas de nossas vidas. Oh, quanto há de proveito experimentado aquele que, ensinado que se não pertence, ab-rogou à sua própria razão a soberania e o mandato para que a Deus o aproprie! (3.7.1).
Essa negação fundamental do eu leva a uma negação específica de nossa preocupação com o eu e a vontade própria. Precisamos nos preocupar com o nome, a vontade e o plano de Deus, e não os nossos:
Pois quando a Escritura nos manda renunciar à consideração particular de nós próprios, não só do ânimo nos expunge a cupidez de possuir, a afetação do poder, o favor dos homens, como também nos erradica a ambição, e todo anseio de glória humana, e outras pestes mais secretas (3.7.2).
Uma vida de negação do eu muda a maneira como nos relacionamos com os outros. Calvino destacou que o orgulho, o ciúme e a inveja (e a rivalidade que eles produzem) são endêmicos nos relacionamentos humanos:
Mas ninguém há que não nutra interiormente algum conceito de sua excelência própria. Destarte, a si adulando, no peito, um a um, engendram os homens um reino, pois, em a si arrogando o de que se aprazam, censura movem acerca do caráter e dos costumes dos outros (3.7.4).
Sendo esse o caso, a gentileza, a humildade e a inferioridade diante dos outros são as principais marcas da negação do eu em nossos relacionamentos. Quando negamos a nós mesmos, procuramos usar nossos recursos para o bem dos outros, e não apenas para nós mesmos.  Calvino insiste que:
A Escritura, porém, para que pela mão a isto nos conduza, premune que todas as graças do Senhor que obtemos nos são confiadas com esta condição; que se destine ao bem comum da Igreja e, por isso, o uso legítimo de todas as graças é o liberal e generoso compartilhar com os outros (3.7.5).
A autonegação buscará servir até ao mais indesejável, pois não surge de um amor egoísta, mas de um amor pelos outros por causa de Deus. Mesmo:
[...] quando não só nada de bom há merecido, mas até te há provocado com injustiças e malefícios, não é esta, na verdade, justa causa por que te deixes tanto de abraçar com amor quanto de cumular dos benefícios da estima (3.7.6).
O contentamento é a expressão primária da negação do eu diante de Deus:
Também resta que não porfiemos cobiçosamente por posses e honras, fiados ou em nossa própria agudeza de intelecto, ou em nossa diligência de ação, nem no favor dos homens, ou confiados na vã imaginação da sorte; pelo contrário, volvamos sempre os olhos para com o Senhor, a fim de que, por seus auspícios, sejamos conduzidos a qualquer destino que nos haja ele providenciado (3.7.9).
Em resumo, a prática da negação do eu levará a atitudes de desapego e contentamento. Segundo a conclusão de Calvino, a pessoa que aprendeu a negar a si mesma ficará contente com:
[...] o que quer que lhe aconteça, porque o saberá ordenado pela mão do Senhor, recebê-lo de ânimo sereno e agradecido, para que não resista contumazmente à autoridade daquele a cujo poder a si próprio e a tudo o que é seu há submetido de uma vez por todas (3.7.10).
Esse é o segredo espiritual da negação do eu.

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* Extraído e adaptado de SHAW, Mark. Lições de mestre. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.

Hábito nº 2: pratique a negação do eu
Hábito nº 3: carregue a cruz
Hábito nº 4: olhe para a eternidade
Hábito nº 5: use tudo desta vida para a glória de Deus
Hábito nº 6: seja persistente na oração

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