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✢ JOÃO CALVINO: O TEÓLOGO HUMANISTA DA REFORMA
O período medieval foi marcado pelo declínio do conhecimento. Isto se deu porque a maior liderança da época, a Igreja Romana, desviara-se das verdades bíblicas. Havia riqueza demais à disposição daquela liderança, assim como imoralidade, embriaguez e corrupção. O povo, por outro lado, sofria com a miséria e não tinha acesso aos estudos.
Os filhos dos senhores feudais tinham acesso às universidades. Mas quem nascia pobre, deveria permanecer pobre. O medo da ira divina era imposto pelo clero. Por isso, até mesmo as artes giravam em torno da ideia religiosa. Não se pintava um quadro de frutas, por exemplo, sem colocar ao fundo uma imagem de cruz, igreja ou algo de cunho religioso, sob risco de ser condenado ao inferno.
O século XIV vê surgir os pré-reformadores John Wycliff (1330-1384, Inglaterra), John Huss (1373-1415, Boêmia, sacerdote tcheco) e Jerônimo Savonarola (1452-1498, Itália). Eles foram perseguidos por enfrentar assuntos relevantes. Não conseguiram, contudo, operar a reforma por não haverem tocado na questão crucial: a doutrina da justificação pela fé.
Os Sinais
Enquanto isso, o mundo testemunhava o movimento que viria a se notabilizar como renascimento cultural. A valorização do homem, ou humanismo, estava no cerne desse ideal, inspirando-o a buscar conhecimento e progresso na vida. Surgem universidades com alcance maior e a literatura clássica grega é redescoberta, e se retoma à leitura do Novo Testamento em grego. Em 1516, Erasmo de Roterdã publica uma edição em grego do Novo Testamento.
Além das grandes descobertas, América e Brasil (Colombo e Cabral) e da redefinição do Sistema Solar (Copérnico), em 1450 ocorre a invenção da imprensa (Johan Gutenberg). Sem esse invento fundamental, que revolucionou a circulação de livros, o destino da Reforma não teria sido o mesmo.
A situação política na Alemanha é outro elemento contextual relevante. O país era dividido em diversas partes, cada uma das quais conduzida por uma espécie de Príncipe Eleitor. Portanto, o Imperador não tinha poder absoluto nos cantões da Alemanha. Carlos V, de ascendência alemã e espanhola, teria matado Lutero, não fosse a intervenção de Frederico, o Príncipe Eleitor da Saxônia.
Vê-se em cada detalhe como Deus conduziu a história para, iluminar com a Reforma, uma forma renovada de encarar a vida e a cultura.
Lutero
Em 1517, o frade dominicano Johanan Tetzel foi enviado às cidades alemãs pelo Arcebispo de Mogúncia a fim de vender indulgências (vender o perdão de Deus). O reformador Martinho Lutero (1483-1546), irado, resolveu enfrentá-lo. O resultado foi que, em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da Catedral de Wittemberg 95 teses demostrando os diversos erros da igreja. Na época, o Papa Leão X intimou Lutero a depor em Roma, mas o Eleitor da Saxônia o protegeu, ordenando que seu caso fosse tratado na Alemanha.
A influência de Lutero passa da teologia a toda cultura alemã. Ele era também um ótimo músico. Compôs hinos e modificou o louvor na Igreja. Antes da Reforma, somente os sacerdotes cantavam, e em latim (canto gregoriano). Lutero estabeleceu o canto congregacional e na língua do povo. Ele praticamente inaugura a literatura de expressão alemã, ao traduzir a Bíblia do grego para o alemão, pois poucos eram os escritos em vernáculo à época.
Ao lado de Lutero, surgiram reformadores relevantes, como Zwínglio, Melancthon, Bucer e Calvino. Sem dúvida alguma, este último foi o mais importante.
O Humanista
João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França. Estudou Teologia, Humanidades e Direito, formando-se advogado. Em 1533, converteu-se à fé evangélica, dirigindo-se à Genebra, na Suíça, quando a perseguição bateu à porta. Ali criou a Academia de Genebra, uma Universidade onde se formaram muitos líderes da Reforma Protestante. Genebra tornou-se um grande centro reformado, convertendo-se no abrigo de muitos crentes perseguidos pela Igreja Romana. Calvino alegou à Genebra um crescimento cultural, social, moral, religioso e político jamais visto até então.
Os seguidores de Calvino, para ser distinguidos dos de Lutero, foram chamados de calvinistas ou reformados. O sistema de governo presbiteriano (representativo) foi elaborado pelo teólogo e advogado João Calvino, semeando a base da democracia moderna.
Calvino intermediou inúmeras contribuições dignas de nota: patrocinou o envio de missionários franceses ao Brasil (Baía de Guanabara), deu abrigo a muitos crentes perseguidos pela Inquisição, criou um Hospital em Genebra, criou uma escola obrigatória e gratuita para todas as crianças e fez com que os políticos baixassem os juros para os pobres.
Ademais, seus escritos testemunham profundidade e fidelidade à Bíblia e o sistema representativo que delineou foi adotado, anos mais tarde, por John Knox na Escócia e pelos Puritanos, na Inglaterra, o que o situa na raiz das instituições democráticas modernas.
Do ponto de vista moral, Calvino ensinava que a salvação em Cristo não muda apenas a vida espiritual. A salvação acarreta, antes, uma mudança completa em todas as áreas da vida. O ensino bíblico de João Calvino ensina que tudo na vida deve ser feito para a Glória de Deus e que o mundo foi criado por Deus e com perfeição. Contudo, a criação sofreu a consequência do pecado cometido pelos pais originais. Por isso, o Reformador entendia que a cultura precisa ser redimida e voltar a seus propósitos iniciais, anteriores ao pecado.
Teologia humanista, estética e cultura
Um ensinamento nuclear de Calvino foi ter indicado que o pecado trouxe depravação à toda humanidade. As artes, por exemplo, refletem a estética e os valores que estão dentro do coração do artista. O pecado trouxe corrupção à arte e à cultura, bem como a todas as partes da criação. Entretanto, João Calvino ensina também que foi Deus quem capacitou os homens a produzir arte e cultura. Se há no coração de todo ser humano o desejo do belo, é porque o mundo criado revela a beleza do Deus Criador. Arte e Cultura, para João Calvino, seriam presentes do Criador. Como tais, foram dados para a Glória de Deus e para fazer bem ao ser humano.
Em virtude de sua Institutas, escritas em 4 volumes, primeiro em latim e depois em Francês, Calvino fortaleceu a literatura francesa como fizera Lutero à literatura Alemã. Contratou o melhor músico de sua época, Louis Borgóes, para metrificar os Salmos, concluindo o famoso Saltério de Genebra. Insistiu no princípio da frugalidade, fomentando um cuidado especial com os mais pobres e necessitados. Em termos estéticos, isso se traduz na arquitetura das igrejas, que se tornou mais simples, ampliando a sensação de intimidade com Deus.
O Calvinismo propiciou aos artistas compor obras sem necessariamente aludir à religião, uma vez que não existe, nesta tradição, a dualidade entre o sagrado e o profano. Tudo foi criado por Deus. Pintar um quadro de frutas ou flores, portanto, também glorifica ao Senhor. Para o Calvinismo, todavia, a Cultura que não glorifica a Deus não é realmente Cultura, e sim desvios de Cultura e demonstrações da depravação humana pelo pecado.
Que sigamos o legado do homem que foi o teólogo humanista da Reforma Protestante, mantendo viva em nós a fé, e presente no mundo a beleza, espécie de ode perene à Criação.
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Autoria do artigo não identificada. Disponível em: https://revistaesmeril.com.br/author/27691506856/. Acesso em: 27/02/22.
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