João
Calvino traz nas Institutas da Religião Cristã, que
é seu principal livro, um ensino sobre o amor ao próximo que será de grande
proveito para nossa edificação. Ele diz:
“Firmemo-nos, então, neste fato: a
nossa vida estará em conformidade com a vontade de Deus e com o que a lei
ordena se, em todos os aspectos, for proveitosa para os nossos irmãos. Ao
contrário, em toda a lei não se lê nem sequer uma sílaba que ofereça ao homem
uma regra sobre o que ele deve fazer ou deixar de fazer em seu próprio
proveito. E como é certo que os homens são, por natureza, muito mais propensos
a amar a si mesmos do que seria justo, não foi necessário dar-lhes mandamento
para inflamá-los mais nesse amor, que já por si vai além da medida. Disso fica
evidente que, não o amor a nós mesmos, mas o amor de Deus e ao próximo é que
constitui o cumprimento dos mandamentos da lei, e que, portanto, cumpre a lei
aquele que vive retamente e o menos possível para si mesmo; por outro lado,
conclui-se também que ninguém tem pior vida e mais desordenada que aquele que
vive só para si mesmo e que só pensa no seu proveito pessoal.”
E
mais:
“Mesmo o Senhor, para mostrar melhor a virtude do amor que devemos ter
pelo nosso próximo, remete-nos ao amor de cada um por si mesmo, e o apresenta
como regra e modelo. Expressão que devemos considerar cautelosa e
diligentemente, porque não devemos entender essa analogia como os sofistas, que
achavam que Deus manda cada um amar a si mesmo em primeiro lugar, e depois, o
seu próximo. O que na verdade Deus manda é transferir para os outros o amor que
temos por nós mesmos. Por isso diz o apóstolo que o amor não procura o seu
interesse particular [1 Co. 13:5]. E não tem valor nenhum a razão que alegam, a
saber, que a regra precede e é superior àquilo que por ela é regrado. Ora,
dizem eles, o nosso Senhor subordina ao amor a nós mesmos o amor ao nosso
próximo. O nosso Senhor não faz do nosso amor a nós mesmos uma regra à qual se
deve reduzir o amor ao nosso próximo como inferior. Antes, em vez de, por nossa
perversidade natural, fixarmos o nosso amor em nós mesmos, ele mostra que é
necessário que se expanda e abranja as outras pessoas, a fim de que estejamos
dispostos a fazer o bem aos outros como a nós mesmos.”
Ele conclui:
“Portanto, se quisermos andar pelo
reto caminho do amor fraterno, não devemos ter os olhos nos homens, pois, na
maioria das vezes, observá-los nos levaria a odiá-los, e não amá-los. A Deus é
que precisamos observar; e ele nos manda estender o amor que lhe votamos a
todos os homens, de tal maneira que sempre tenhamos este fundamento: seja quem
for e como for o ser humano, temos que amá-lo, se é verdade que amamos a Deus.”
Eis a verdade. É necessário seguir!
Rev. Lucas Guimarães
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