“Às vezes sucede que aqueles que desejam ser
considerados como os mais zelosos pela lei comprovam, mediante sua maneira de
viver, ser seus principais transgressores” – João Calvino, Comentário às
Cartas Pastorais.
O
adágio popular já preconiza: “Tudo de mais é veneno!” Esse adágio é usado para
deter os exageros advindos de impulsos carnais e desprovidos de sã consciência.
Calvino
não coloca em suspeita os mais zelosos pela lei de Deus. A busca pelo zelo à
lei do Senhor é sempre um empenho bendito. Os mais zelosos devem receber devido
reconhecimento e não suspeita. E como são mais zelosos, o devido reconhecimento
não deve produzir vangloria neles!
O
que João Calvino tenta mostrar é que, não em toda situação, mas apenas às
vezes, a transgressão à lei do Senhor tem como motivadores os que desejam ser
considerados “os tais” em zelo. Atentem bem onde se encontra o erro. Eles
desejam ser considerados e não apenas desejam.
Viver
a lei do Senhor com zelo é somente para quem tem um sincero desejo e busca. O
fim de seu desejo é o zelo pela lei do Senhor e não a vangloria. Quando assim o
crente procede, ele se torna um dos principais observadores da vontade de Deus.
Não se pode dizer o mesmo daqueles que apenas desejam ser considerados. Esses
buscam a glória através da vangloria, buscam reconhecimento através do
desconhecimento, e o zelo através do simples desejo.
A
maneira de viver o verdadeiro zelo pela lei do Senhor é conhecida. Ela abomina
transgredir a lei divina e usurpar o que é devido somente a Deus: a glória e o
louvor. Por mais que alguém tente se esconder através do desejo de ser o mais
zeloso, a sua maneira de viver haverá de comprovar quem ele realmente é. Os
frutos revelam a árvore!
Não
devemos esquecer que Calvino pontua que somente às vezes sucede. É possível
alguém, em nome da vanglória, tornar-se zeloso para apenas alimentar seu
egoísmo. Ele pode esconder de todos essa realidade. Não poderá, contudo,
esconder de Deus. O zelo à lei do Senhor com motivação errada é o mesmo que
negligenciar a mesma lei! Quem serve a Deus com motivação errada perde a
oportunidade de o servir corretamente e por Deus ser abençoado.
No
tempo de Jesus, os fariseus haviam desenvolvido um zelo que excluía a
misericórdia, a justiça e a fé (Mt. 23.23). Buscavam o zelo à lei para receber
o reconhecimento das pessoas e serem tidos como espirituais. Jesus os reprovou
severamente! O nosso viver revela quem somos. Falar é fácil, fazer é difícil!
Ter
zelo significa manter algo sobre cuidado permanente para que ele não sofra
deterioração. E mais: é cuidar de algo por considerá-lo original e de uma
beleza e valor que se pretende manter. Isto pode fazer com que se pense que ter
zelo à lei é fazer com o que o outro a pratique ou seja julgado por não a praticar.
Até parece que ter zelo é somente zelar, isto é, fazer os outros cumprirem a
lei. Engano! O zelo começa com a prática. Muitos arrogam o título de zelosos
pela lei devido a sua implacável luta contra o mal no outro. Deus não toma como
inocente aquele que luta para que o outro cumpra o mandamento que ele mesmo não
cumpre. Essa luta não será creditada! É puro farisaísmo!
É
tempo dos filhos de Deus serem zelosos. No zelo não podemos ser remissos,
descuidosos. A ferrugem pode corroer facilmente! É tempo de afirmar nosso
fervor a Deus.
Os mais zelosos devem ser também os mais
praticantes! O zelo é justificado pelo viver. De nada adiante a pessoa zelosa
da lei sem vida com Deus! É o cúmulo da hipocrisia!
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